domingo, 8 de março de 2015

Trabalhos academicos sobre a temática

Monografia em Ciências Sociais - UFPB, 2014. Título: O ESPAÇO DAS POSSIBILIDADES, A DESORDEM A SER PENSADA NO LOCAL DO IMPENSÁVEL: UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DAS RELAÇÕES ENTRE CIGANOS E ESCOLA. Autora: AQUILES CORDEIRO DO NASCIMENTO Resumo: Este estudo monográfico apresenta uma reflexão sobre a etnia cigana, perspectivando relatar algumas particularidades da história dessa etnia no mundo e no Brasil; assim como lançar a oportunidade de uma discussão teórica sobre os ciganos e a educação. Considero as possibilidades de diálogo entre antropologia e educação. Tem como objetivo apresentar como os grupos ciganos da etnia Calon tem sido historicamente percebidos em suas relações com os nãos ciganos, sendo vistos como “desordeiros” e avessos à educação formalizada. Para desenvolvimento do referido trabalho, os procedimentos metodológicos adotados foram à pesquisa etnográfica realizada junto à comunidade cigana, na cidade de Sousa,-PB, de onde tiramos as primeiras indagações, observações e impressões que serviram, posteriormente, como dados de análise. Ainda fizemos levantamento bibliográfico, tanto sobre a temática cigana em geral, como sobre a relação entre ciganos e escola; através da consulta de livros, artigos, trabalhos acadêmicos e legislações que contemplem o grupo étnico aqui discutido, desenvolvidos sobre tais segmentos. Quando se pensa na perspectiva analítica da educação, é significativo pensar de que modo à educação formal estaria preparada para lidar com os diferentes grupos étnicos e mais especificamente, com os ciganos.
Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia - UFPB. 2015 Título: AS CRIANÇAS CALON:UMA ETNOGRAFIA SOBRE A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA ENTRE CIGANOS NO VALE DO MAMANGUAPE-PB. Autora: EDILMA DO NASCIMENTO JACINTO MONTEIRO Resumo: Este trabalho objetiva interpretar os ciclos de vida dos ciganos Calon e a concepção de infância no grupo residente no Vale do Mamanguape, no litoral norte da Paraíba. Trata-se de um estudo de caso, realizado por meio de uma pesquisa etnográfica feita durante quinze meses. A análise também aborda os fluxos presentes na “Rua dos ciganos”, no município de Mamanguape-PB, onde o campo de pesquisa se desenvolveu. A metodologia utilizada tem por base a etnografia, além de uma pesquisa bibliografia sobre antropologia da criança, etnicidade e grupos ciganos. Foi realizada uma observação participante, nos moldes antropológicos, durante as incursões ao campo empírico, conjuntamente a algumas técnicas da antropologia da criança (grupo focal e desenhos temáticos) e a técnica de entrevista com roteiro semiestruturado. A pesquisa nos permitiu conhecer a dinâmica vida cotidiana entre os Calon do Vale do Mamanguape, as rotas e fluxos de pessoas e objetos que compõem esta dinâmica. Sobretudo a pesquisa voltou-se para a concepção/vivência da infância entre os ciganos, ou seja, como são concebidos os processos sociais de crescer e se reconhecer Calon, em oposição ao mundo não cigano.

domingo, 3 de novembro de 2013

Expulsão de Rom

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domingo, 30 de junho de 2013

´A pátria do povo cigano é a própria alma deles´

Doutor em Letras pela USP e escritor, Ático Vilas-Boas desvenda os enigmas e segredos de um dos povos mais misteriosos do mundo

In: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1279197

Professor Ático Vilas-Boas em sua biblioteca, na cidade de Macaúbas, Bahia, onde se encontram 15 mil volumes, a maioria dos quais sobre literatura romena e a vida dos povos ciganos em todo o mundo Foto: Cid Barbosa

Quando chegaram os primeiros ciganos ao Brasil?
O Brasil foi "achado" em 1500. Acreditávamos que o primeiro cigano que veio para cá, na companhia da sua mulher, se chamava João de Torres, que teria chegado ao Maranhão, em 1574. Recentemente, em Portugal, foi provado que, antes dessa data, um outro foi degredado para o Maranhão, na chamada "limpeza social" que Portugal fazia, mandando para cá assaltantes de estradas, sodomitas e ciganos.

Por qual motivo é tão difícil obter informações sobre eles?
Eles são povos ágrafos. Há uma passagem bíblica que diz que a letra mata o espírito. E eles, pelos estudos que fiz, realmente não gostam da palavra escrita, pois esta amarra um pouco a espontaneidade, no sentido de que, depois que você escreve alguma coisa, você fica escravo daquilo. Eles gostam de improvisar sempre. Se você entrevistar um cigano e pedir para que ele conte uma lenda deles, cada vez que ele for contar é diferente. O enredo continua, mas a forma é outra.

Por esse motivo existe o mito de que eles não gostam de frequentar a escola?
Até certo ponto. Eles acham que a escola vai bitolá-los, descaracterizá-los, impor uma cultura que não é a deles. Por isso, eles têm medo. O Brasil, como país pluriétnico, deveria cultivar e respeitar a cultura cigana, pois a beleza está na diversidade. Imagine tudo igual, todas as pessoas pensando igual. Seria monótono.

Que tipo de organização política e social cultivaram?
Do ponto de vista do inconsciente coletivo, eles devem ter tido uma organização política, com chefe, haja vista que, de vez em quando, aparece aqui e acolá um cigano dizendo que é o rei dos ciganos. Já houve, na Polônia. Agora, no interior da Romênia, tem um muito rico, que usa muito ouro e joias. Isso indica que houve um tempo que eles tiveram o seu rei.

Eles formam uma sociedade patriarcal?
No cigano, existe um matriarcado do disfarçado. Aparentemente, dá a impressão do patriarcado, o homem surge sempre como o chefe, o pai de família. Todavia, debaixo do pano, a mulher tem influência enorme. As ciganas puridei, por exemplo, são as que vão testar a virgindade das moças que vão casar.

Como é a cerimônia que antecede o casamento?
É uma coisa curiosa. Como eles têm tradição de milênios, podem se casar na Igreja ou até no Cartório. Todavia, após isso, fazem o casamento deles. Com juramento do sal, que é colocado na palma da mão dos dois noivos. Quebram um vaso no chão. Há também o festival da camisa. A noiva fica na barraca separada e vem a puridei (matriarca) para testar a virgindade da moça. Ela rompe o hímen e mostra o sangue na toalha. Nesse instante, acontece a grande festa. Quando a moça não é virgem, tudo dá errado. Há uma troca de insultos entre as famílias envolvidas.

Qual a postura deles diante de velhos e crianças?
Nunca foi encontrado, até agora, nenhum grupo cigano com uma criança abandonada. Eles têm um respeito natural pelos velhos. Pode ser o barô (chefe) ou não. Também não há caso de cigano que tenha colocado um velho no asilo.

E a leitura de mão, como desenvolveram essa habilidade?
Uma das atividades mais fascinantes exercidas pelas mulheres é a leitura de mão. Os espíritas acreditam que as ciganas têm uma intuição, não pelas linhas da mão, mas por uma espécie de sexto sentido, que permite antecipar o dom da profecia e também ler na alma da pessoa diante dela.

Como Adolf Hitler via os ciganos?
Hitler era um doente mental que perseguiu três tipos de pessoas: judeus, ciganos e homossexuais. Tinha aversão a esses três segmentos. Como sua teoria era paranoica, não tinha nenhuma coerência, já que ele defendia os arianos. Os antropólogos até hoje afirmam que, se existe um povo na Europa menos misturado é o cigano, que é ariano.

Os ciganos sofreram mais que os judeus durante o nazismo?
O que houve é que eles tiveram mais sorte do que os judeus num aspecto. O fato de não possuírem muitos bens acabou por poupá-los em grande parte. Os judeus eram levados para a fogueira e seus bens, confiscados, sob a alegação de que seriam usados para educar seus filhos. Já os ciganos, ao contrário, não possuíam muitos bens. Isso, entretanto, não quer dizer que não foram duramente castigados pelo regime comandado por esse doente.

Qual religião que professam?
Não têm uma religião única. Costumam adotar a que é mais seguida nos locais onde se instalam. Mas, na verdade, são animistas. Existe uma cerimônia fúnebre entre eles chamada "pomana". Depois que uma pessoa morre e são passados alguns dias, é realizado um banquete, no qual nenhum cachorro pode se encostar. E tem uma hora em que uma cigana matriarca, respeitada da tribo ou parente de quem morreu, pega as roupas e começa a dialogar com a lua, com as nuvens, como se tivesse falando com Deus. Isso é uma manifestação tipicamente animista.

Em relação ao batismo, como eles procedem?
Por esperteza ou não, eles batizam os filhos mais de uma vez para ter vários padrinhos.

Eles são apátridas?
A pátria do povo cigano é a própria alma deles. Já a barraca é o mínimo que eles têm de referência telúrica. Por isso, ficam revoltados quando alguém profana o seu acampamento. O território do cigano deveria ser como o de uma embaixada, você não pode invadir. Teria que ser respeitado por todos como domicílio.

No que diz respeito à culinária, como procedem?
Praticamente da mesma forma que em relação à escolha da religião. Não têm uma culinária própria, específica. Vão adaptando o que encontram em cada país por onde andam. Depois, fazem uma síntese dessas experiências. O que sabemos, de fato, como uma autêntica tradição deles, é que apreciam pratos bem apimentados.

FIQUE POR DENTRO

Casos graves são analisados pela Justiça Suprema

O professor e escritor Ático Vilas-Boas é uma das poucas pessoas não-ciganas a ter assistido a um julgamento realizado entre os ciganos. O fato ocorreu há quase 20 anos, em Campinas (SP): "Eles têm uma rigorosa justiça oculta, secreta, composta de três instâncias. O caso que acompanhei ocorreu em Goiânia, onde um grupo familiar estava brigando com outro. Uma cigana foi acusada injustamente de ser leprosa, coisa que os ciganos abominam. Ela tinha, na verdade, o que se chamava de alergia gigante. Para resolver a pendência, primeiramente, houve um encontro informal e a cigana que acusou não ficou satisfeita. Depois, formou um grupo maior de pessoas, um "divano", e ela também não aprovou o resultado, desfavorável a si. E aí apelou à Kris, terceira e última instância, composta de velhos e respeitáveis ciganos, que, segundo as tradições, não podem ter jamais feito mal na vida ou mentido para outro cigano. Para completar o grupo, foram buscar uma pessoa no Paraguai. No dia do julgamento, a acusada foi levada a um laboratório e fez o exame, que resultou negativo. Aí, começou a se discutir a multa (maia) a ser imposta a quem a acusou indevidamente. O pagamento pode ser feito por meio de veículos, joias, cheques, dólar etc. Na época, dava para comprar um fusca novo. Veja o que é a diferença, o choque de cultura em relação a nós. A mulher que tinha sido acusada de forma injusta, como ficou devidamente provado, em nome da preservação da unidade do grupo, ao invés de aproveitar a ocasião para se vingar, ofereceu, com o dinheiro recebido, um banquete para se reconciliar com a que havia formulado a acusação".

Fernando MaiaRepórter